O combate ao tráfico de drogas em Arcos, cidade do Centro-Oeste mineiro, tem sido pauta constante das autoridades policiais. Nos últimos 12 meses, diversas operações resultaram na prisão de dezenas de suspeitos, boa parte deles jovens, e apontam para uma concentração da atividade criminosa em bairros específicos da cidade.
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Bairros Mais Atingidos Pelo Tráfico
Segundo levantamento com base em ocorrências policiais divulgadas entre 2023 e 2025, quatro bairros se destacam como os principais focos de tráfico:
- Olaria
- Brasília
- Parque Floresta
- Mangabeiras
Perfil dos Envolvidos
O perfil etário dos envolvidos nas ocorrências de tráfico em Arcos revela uma predominância de jovens. A maior parte dos presos tem entre 16 e 32 anos. Em operações realizadas em julho de 2023 e março de 2024, foram detidos:
- Um menor de 16 anos, além de suspeitos com 18, 20, 24, 26 e 32 anos.
De acordo com a Polícia Militar, esses jovens são frequentemente cooptados por organizações criminosas para atuar como “aviõezinhos”, responsáveis pela distribuição das drogas nas ruas.
Ações Policiais em Alta
A intensificação das operações tem sido uma resposta direta à crescente denúncia da população e à visibilidade do tráfico em áreas residenciais. Em muitas dessas ações, a PM conta com apoio da Polícia Civil, uso de cães farejadores e cumprimento de mandados de busca e apreensão.
Tráfico de drogas no interior de Minas: a ameaça invisível que devasta comunidades inteiras
Em pequenas cidades mineiras, o narcotráfico avança silenciosamente, deixando um rastro de medo, violência e vidas destruídas.
Durante muito tempo, as cidades do interior de Minas Gerais foram conhecidas por sua tranquilidade, pelas ruas calmas onde crianças brincavam livremente e vizinhos se conheciam pelo nome. Mas essa realidade tem mudado. De forma quase imperceptível no início, o tráfico de drogas fincou raízes em municípios onde a criminalidade costumava ser mínima, e hoje impõe medo e desestrutura famílias.
Uma nova realidade nas pequenas cidades
Nossa equipe esteve em três municípios da região Centro-Oeste de Minas, cujos nomes manteremos em sigilo a pedido dos entrevistados. Em comum, eles compartilham o mesmo problema: o aumento visível do tráfico de drogas nos últimos cinco anos.
“Antes, o máximo que a gente via era uma briga de bar ou furto de bicicleta. Agora, tem assassinato, tiroteio, e a polícia nem sempre dá conta. A cidade mudou, e não foi pra melhor”, conta um comerciante de 56 anos, que preferiu não se identificar por medo de represálias.
Recrutamento de jovens: o tráfico como “oportunidade”
A estratégia dos traficantes é clara: aliciar adolescentes e jovens desempregados com promessas de dinheiro fácil. Sem perspectivas de estudo ou trabalho, muitos veem no tráfico uma forma de sobrevivência.
“Meu filho tinha 14 anos quando começou a se envolver. Primeiro foi levando recado, depois passou a vender. Eu implorei pra ele sair, mas ele dizia que era isso ou passar fome”, relata dona Marlene*, moradora de um bairro periférico. Hoje, o filho dela cumpre pena por tráfico de entorpecentes.
Dependência química e o colapso familiar
Além dos que trabalham para o tráfico, há os que se tornam clientes. O acesso facilitado às drogas, como crack e cocaína, tem alimentado o vício em usuários cada vez mais jovens. As consequências são devastadoras.
“Tive que internar meu irmão três vezes. Ele vendia tudo dentro de casa pra comprar droga: televisão, botijão, até a bicicleta da minha filha. O tráfico acaba com a pessoa e com a família dela também”, desabafa Joana*, auxiliar de enfermagem.
Policiamento insuficiente e medo da população
Em entrevista com um policial militar da região, que também pediu anonimato, fica evidente a dificuldade de enfrentamento:
“Temos efetivo reduzido, viaturas sucateadas e, muitas vezes, lidamos com traficantes armados até os dentes. Eles sabem que a estrutura policial aqui é fraca. A lei não assusta mais ninguém.”
A população, por sua vez, tem medo até de denunciar. “A gente vê quem são os meninos do tráfico. Mas denunciar pra quê? Eles saem da delegacia antes do boletim ficar pronto. E depois vêm atrás da gente”, diz um morador de 38 anos.
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A ausência do Estado e a força da comunidade
Especialistas apontam que o combate ao tráfico exige mais do que repressão. Segundo a assistente social Luciana Tavares, é necessário um conjunto de políticas públicas: “Educação integral, esporte, cultura e emprego são os verdadeiros antídotos contra o avanço do tráfico. Onde o Estado não chega, o crime se instala.”
Apesar das dificuldades, algumas comunidades têm reagido. Projetos sociais desenvolvidos por igrejas, associações e voluntários tentam ocupar o tempo das crianças e jovens com atividades saudáveis. Mas a luta é desigual.
Conclusão: a urgência de um olhar para o interior
O tráfico de drogas nas pequenas cidades de Minas Gerais já não é exceção. É uma realidade que precisa ser enfrentada com seriedade, investimento e envolvimento da sociedade como um todo. O silêncio, muitas vezes motivado pelo medo, apenas fortalece o poder dos criminosos.
Enquanto isso, o interior segue sendo palco de uma guerra silenciosa — onde não há bombas, mas onde se perde, todos os dias, a esperança de um futuro melhor.
Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos entrevistados.
Por Marcelo Ribeiro.