Celebrado em 12 de junho, véspera do dia de Santo Antônio, o famoso “santo casamenteiro”, o Dia dos Namorados no Brasil possui uma origem tão comercial quanto simbólica.
Diferente do Valentine’s Day (14 de fevereiro), que tem raízes europeias e cristãs ligadas ao martírio de São Valentim, a data brasileira foi instituída em 1948 por iniciativa do publicitário João Doria, pai do ex-governador paulista, como forma de aquecer as vendas no mês mais fraco do comércio.
Desde então, o dia se consolidou não apenas como uma celebração do amor romântico, mas também como um momento de forte apelo publicitário, que transforma emoções em vitrines, laços afetivos em laços de presente.
Enquanto o Valentine’s Day se espalha pelo mundo como uma comemoração mais ampla do amor, entre amigos, familiares e casais, o Dia dos Namorados brasileiro ainda é mais focado no relacionamento amoroso entre pares.
Isso acaba gerando um certo “gatilho social” para pessoas solteiras, separadas ou em situações de solidão afetiva, especialmente nas redes sociais, onde os casais expõem momentos idealizados.
A pressão para “estar com alguém” ou “celebrar o amor a dois” pode, muitas vezes, ofuscar a pluralidade de formas de amar. Ainda assim, a data também é oportunidade de reaproximação, de declarações públicas e privadas e de pequenas grandes reconciliações, uma pausa simbólica na rotina para lembrar do afeto em tempos digitais.
Para o comércio, a data é uma das mais lucrativas do calendário, ficando atrás apenas do Natal e do Dia das Mães.
Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), as vendas em 2024 movimentaram mais de R$ 2,6 bilhões no país, com destaque para os setores de vestuário, perfumaria, restaurantes, floriculturas e joalherias.
As campanhas apelam para os sentimentos, mas também para a urgência: “últimas unidades”, “não deixe para depois” e “o amor merece um presente à altura” são frases recorrentes. Marcas se reinventam com kits personalizados, experiências exclusivas e ofertas relâmpago.
Mas para além do consumo, há também um movimento crescente de pessoas buscando celebrar com simplicidade, com jantares feitos em casa, cartas escritas à mão ou apenas tempo de qualidade juntos, numa tentativa de resgatar o valor afetivo em meio ao marketing invasivo.
O Dia dos Namorados, portanto, é um retrato do tempo em que vivemos: marcado pela dualidade entre o sentimento genuíno e a vitrine do afeto. Embora nasça de uma estratégia comercial, a data resiste e se transforma, acompanhando as mudanças nas formas de amar.
Os casais de hoje são diversos LGBTQIAPN+, relacionamentos abertos, namoros à distância, e até os que se encontram apenas virtualmente.
Em meio à rotina agitada, o 12 de junho serve como convite à conexão real, seja entre corpos, corações ou intenções.
Talvez o maior presente não esteja nas caixas ou buquês, mas na escuta mútua, na presença sincera e no respeito ao tempo do outro, porque, no fim, todo amor que resiste à pressa e à performance, merece ser celebrado.