Memórias de um Doente dos Nervos (1903) é uma autobiografia escrita pelo jurista alemão Daniel Paul Schreber, onde ele relata suas experiências com doenças mentais, particularmente esquizofrenia. A obra descreve, em detalhe, suas alucinações, pensamentos obsessivos e o sistema delirante que desenvolveu durante sua internação em uma instituição psiquiátrica. Schreber acreditava que estava passando por uma transformação que o levaria a ser “feminizado” e que Deus estava envolvido em um plano cósmico que envolvia sua redenção.
O caso de Schreber é amplamente estudado na psiquiatria e psicanálise, sobretudo após a análise de Sigmund Freud, que viu no delírio de Schreber uma expressão de conflitos internos, principalmente relacionados à repressão sexual e aos complexos edipianos.
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Comparações com o Nazismo
Embora Memórias de um Doente dos Nervos preceda o período nazista, a obra pode ser analisada à luz do contexto autoritário, especialmente em relação ao controle e repressão das instituições psiquiátricas da época:
- Autoritarismo e Controle do Corpo e da Mente:
- Schreber experimentou a repressão mental e a perda de autonomia nas mãos das instituições psiquiátricas, que impunham regras e um tratamento desumanizador sobre ele. Essa experiência antecipa o tipo de controle autoritário sobre a mente e o corpo que o nazismo empregaria com métodos ainda mais brutais, como a “limpeza” de grupos que eram considerados “indesejáveis” ou “imperfeitos” pelo regime nazista.
- Desumanização e Violação dos Direitos Humanos:
- Assim como Schreber foi tratado como um objeto de experimentação e não como um ser humano com vontades e sentimentos, os pacientes psiquiátricos e outros considerados “indignos de viver” eram muitas vezes exterminados no nazismo. Schreber representava um símbolo de resistência, mesmo que involuntária, ao afirmar sua humanidade ao narrar seus próprios delírios e experiências.
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- Relações com o Poder e a Supressão de Identidades:
- Schreber também relata um conflito entre sua identidade e o desejo de transformação imposto, que ele interpretava como uma “feminização”. No nazismo, a imposição de uma identidade única, pura e padronizada (a ariana) gerou violência e supressão contra qualquer um que desviasse desse ideal.
- Uso de “Ciência” para Justificar Abusos:
- A obra revela os primeiros ecos do uso da psiquiatria como forma de controle social, uma prática que seria amplamente explorada pelo regime nazista para justificar abusos contra indivíduos com condições mentais. Schreber sofreu em um ambiente onde a autoridade médica era quase irrestrita, refletindo o que mais tarde seria o uso pseudocientífico para justificar a eugenia e outras práticas inumanas.
Assim, Memórias de um Doente dos Nervos pode ser visto como um retrato precoce dos perigos do poder absoluto sobre o indivíduo. A experiência de Schreber revela o potencial destrutivo de instituições que não respeitam a autonomia e a dignidade das pessoas, um tema que se agravaria décadas depois, culminando nos horrores do nazismo.