No Dia dos Namorados, o feed se enche de flores, jantares e promessas de amor eterno embaladas por frases de Pinterest. Mas e fora da vitrine? Ainda sabemos o que significa ser namorado em tempos tão acelerados, líquidos e, às vezes, até descartáveis?
No meio de boletos, redes sociais, sobrecarga emocional e crises existenciais, muita gente ainda busca um amor pra chamar de seu, mas nem sempre encontra espaço, tempo ou coragem pra viver isso de forma real.
Amar hoje exige mais que declarações fofas: exige disponibilidade emocional, parceria e uma dose de resistência ao individualismo que a gente naturalizou sem nem perceber.
Os relacionamentos de hoje são atravessados por mil fatores. Falta de tempo, exaustão, traumas, pressões sociais e até o algoritmo que dita quem merece ou não nossa atenção. Namorar virou, pra muita gente, um desafio. Há quem esteja em um relacionamento e se sinta sozinho, e há quem esteja solteiro e sinta que falta conexão.
A verdade é que o amor está cada vez mais idealizado e menos vivido. A gente troca mensagens, mas não troca presença. A gente curte posts, mas não sustenta conversas difíceis. Ser namorado, hoje, é quase um ato político: é estar ao lado, mesmo com todos os ruídos que o mundo produz.
E tem mais: a ideia de “casal perfeito” muitas vezes exclui realidades. Casais LGBTQIAPN+ ainda enfrentam preconceito e invisibilidade, mesmo em 2025. Pessoas pretas, gordas, trans, com deficiência ou de classe baixa seguem sendo marginalizadas até no campo do afeto, como se o amor tivesse um padrão de quem merece e quem não.
Por isso, o Dia dos Namorados também pode ser um convite pra gente rever nossas referências.
Amar não é só estético, é também ético. É sobre reconhecer o outro, dividir vulnerabilidades, construir junto. E isso vai muito além da foto com presente no restaurante caro.
Nesse sentido, talvez o melhor presente seja o cuidado contínuo. A escuta. O não romantizar ciúmes, abusos ou desrespeito. A gente aprendeu muito cedo que amar é sofrer, e agora precisa aprender que amar também pode ser leve, recíproco, gentil. Ser namorado é estar junto, mas não colado.
É ter vida própria, mas compartilhar caminho. E é, sobretudo, entender que o amor não se prova num dia 12 de junho com pelúcia, mas se constrói todos os dias, com presença, respeito e vontade de crescer junto.
Então, se você tem um amor, celebre. Mas celebre além das flores: celebre o cuidado, a escuta, o companheirismo. E se você ainda não encontrou alguém, ou está aprendendo a amar a si mesmo, celebre também. Porque todo tipo de amor é válido.
O mundo precisa de mais afeto e menos performance. E talvez essa seja a maior mensagem desse Dia dos Namorados: mais do que namorar alguém, que a gente aprenda, de verdade, a se relacionar, com o outro e consigo mesmo.