O primeiro semestre de 2025 termina como um expediente de 180 dias: cansativo, desigual e sem bônus no final. O povo trabalha, os números mentem, e a ética continua fora do contrato social.
Estamos chegando ao fim de junho de 2025. É tempo de fechamento contábil, revisão de metas e balanço do semestre. Se o Brasil fosse uma empresa, já teríamos demitido o RH, processado o CEO e instaurado uma CPI no setor de comunicação.
Mas como o Brasil não é empresa, embora trate sua população como linha de produção descartável, seguimos com um sistema que premia os que sabotam e penaliza os que resistem.
A cada semestre, um novo discurso motivacional é entregue no PowerPoint oficial, enquanto os dados reais ficam trancados no almoxarifado da desigualdade.
A pergunta que paira no ar é simples: quem está realmente ganhando com a operação chamada “Brasil”?
No departamento de Recursos Humanos, a rotatividade é brutal, mas não por escolha. Milhares de brasileiros foram desligados sem aviso prévio do direito à dignidade. Os cargos mais buscados continuam sendo “bico”, “freela”, “motorista de aplicativo” e “autônomo sem autonomia”. O plano de carreira é sobreviver. Jovens qualificados estão pulando do barco, aceitando estágios na Europa como quem foge de um Titanic tropical. Os que ficam, aprendem a decorar palavras como “resiliência” e “empreendedorismo” enquanto vendem bolo de pote para pagar a faculdade EAD. O burnout virou epidemia silenciosa. O país está operando no modo exaustão.
O setor de Comunicação Institucional vive seu melhor momento… na ficção. A máquina de fake news continua turbinada. Relatórios são maquiados, discursos ensaiados, e a imprensa oficial serve mais como canal de convencimento do que de informação. Os porta-vozes do país estão mais preocupados em vencer a guerra narrativa do que resolver os problemas que ardem nas ruas. A polarização não é mais acidente, mas método. A dúvida virou ferramenta de controle. E, enquanto isso, o povo assiste, entre memes e mentiras, ao colapso do senso crítico, um prejuízo incalculável no patrimônio simbólico da democracia.
No setor de Responsabilidade Social e Ambiental, os resultados são negativos, não só no gráfico, mas na consciência. A crise climática já virou rotina, e os desastres, previsíveis. Mas seguimos sem plano. Povos indígenas são removidos de suas terras em nome de “progresso”, e comunidades inteiras seguem alagadas de promessas. O Brasil que exporta sustentabilidade em discursos, importa lama, fumaça e fogo para seu território. O ESG nacional se resume a uma sigla de aparência: bonita na apresentação, inútil na prática. O que era para ser uma agenda ética virou mais um QR code para campanhas publicitárias.
Já no departamento de Diversidade e Inclusão, a contradição reina. Temos campanhas com todas as cores, mas contratos que ainda rejeitam tons fora do padrão. Pessoas negras, trans, indígenas e com deficiência aparecem com destaque nas redes sociais da marca Brasil, mas são invisíveis nas reuniões que decidem salários, planos e estratégias. A diversidade, aqui, virou marketing de impacto. O Brasil diz que é plural, mas sua liderança ainda é branca, cis, hétero e blindada. A empresa prega igualdade em seus discursos, mas não promove quem sempre esteve do lado de fora da sala de decisão.
E o que esperar do segundo semestre? A empresa Brasil seguirá operando no vermelho, não apenas financeiro, mas moral. Com as eleições federais logo ali em 2026 se aproximando e a pressão geopolítica crescendo, a tendência é de mais promessas, mais slogans, mais distração.
Enquanto isso, a base segue trabalhando sem pausa, sem bônus, sem plano de saúde. A cada semestre, mais brasileiros percebem que o país virou um negócio que lucra com a desesperança.
E como em toda empresa mal gerida, um dia a conta chega. Talvez não em forma de impeachment ou reforma, mas de abandono. O Brasil S/A está de pé, mas às custas de quem sempre sustentou essa estrutura: o povo.